Maria Madalena corre contar aos discípulos que viu o Senhor e ele os chamou de "irmãos" e filhos de seu Pai. Para um judeu, chamar a Deus de Pai estava fora de questão. Era intimidade demais com o Criador. Porém Jesus deixa claro que aqueles que creem nele são colocados na mesma posição de total aceitação que ele desfruta perante o Pai. Caso contrário ele não nos chamaria de "irmãos".
Quando você ler a Bíblia, saiba que o Espírito Santo não desperdiça palavras. Se ele diz algo, é melhor acatar, pois existe uma razão de ser. É o caso do dia mencionado no início deste capítulo 20 do evangelho de João: "o primeiro dia da semana". No versículo 19 diz "ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana". O "primeiro dia da semana" é o que hoje chamamos de domingo.
Foi nesse dia que Jesus ressuscitou e apareceu a Maria Madalena e também às outras mulheres, segundo o relato de Mateus no capítulo 28 de seu evangelho. Também apareceu a Cleopas e ao outro discípulo no caminho de Emaús, como nos informa Lucas, no capítulo 24 de seu evangelho, onde também fala de uma aparição particular a Simão Pedro (Mt 28:1-9; Lc 24:15, 34).
É no "primeiro dia da semana" que Jesus se coloca no meio dos discípulos reunidos. Em Atos capítulo 20 Lucas escreve que "no primeiro dia da semana reunimo-nos para partir o pão". Paulo, em sua primeira carta aos coríntios, ensina: "No primeiro dia da semana, cada um de vocês separe uma quantia, de acordo com a sua renda", para ajudar os mais necessitados (1 Co 16:2).
João chama de "dia do Senhor" o primeiro dia da semana, quando recebe a revelação do Apocalipse (Ap 1:10). Não se trata do "dia do Senhor" em que ele descerá do céu para julgar as nações e, mil anos depois para destruir a terra (2 Pe 3:10). No original João diz "dia do Senhor" no mesmo sentido de "ceia do Senhor" de 1 Coríntios 11, ou seja, o dia que pertence ao Senhor. Na Bíblia em inglês fica mais fácil perceber a diferença: o dia de juízo é chamado "the day of the Lord", e o dia da semana, que João menciona em Apocalipse, é "the Lord's day".
O domingo era um dia especial para aqueles discípulos, o dia em que o Senhor ressuscitou e também se colocou no meio deles. Era o dia em que eles separavam o que pretendiam colocar na coleta para suprir as necessidades dos irmãos carentes e da obra do Senhor. Era também no "dia do Senhor" que se reuniam para celebrar a "ceia do Senhor". O domingo não é o sábado da Lei dada aos judeus, mas é um dia especial para o cristão. É o primeiro dia, o princípio, "o dia do Senhor", o dia que é dele e deve ser dedicado a ele.
Nos próximos 3 minutos Jesus garante aos seus discípulos aquilo que os homens tanto procuram: a paz.
"Ao cair da tarde daquele primeiro dia da semana, estando os discípulos reunidos a portas trancadas, por medo dos judeus, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: 'Paz seja com vocês!' Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se quando viram o Senhor" (Jo 20:19). É assim que João descreve a primeira reunião que eles têm com Jesus no meio.
Os discípulos têm medo dos judeus, e não é sem razão. Aquele que eles consideravam o Messias e Rei de Israel tinha morrido e eles sentem falta de sua presença física. Antes eles se sentiam seguros na companhia daquele que podia domar as tempestades, mas agora estão reunidos com portas e janelas trancadas para impedir a entrada de qualquer um. Mas Jesus não é qualquer um.
O texto não diz como ele aparece ali sem arrombar a porta, mas o fato em si explica muita coisa. O corpo ressuscitado é imune às limitações impostas pelas leis da física. Ali está um Homem de carne e ossos que atravessa paredes, ou simplesmente aparece no meio deles com o mesmo tipo de corpo que os salvos ressuscitados terão. Com uma exceção: no céu, apenas Jesus terá cicatrizes.
A reação dos discípulos é de alegria. Pela segunda vez Jesus lhes diz "Paz seja com vocês!", assegurando que já não existe mais a possibilidade de cair sobre eles a ira divina. Todo o juízo de Deus tinha sido derramado em Jesus. Uma vez morto e ressuscitado, a obra está completa. O apóstolo Paulo escreve aos colossenses explicando quem é Jesus:
Ele é o "Filho amado, em quem temos a redenção, a saber, o perdão dos pecados. Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis... criadas por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia. Pois foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude, e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz" (Cl 1:13-20).
Se você ainda não tem a certeza de seus pecados perdoados; se para você Jesus não é a expressão exata do Deus invisível; se você não crê que tudo foi criado por Jesus e para Jesus, e que tudo subsiste nele; se não aceita que em Jesus você encontra Deus em toda a sua plenitude; se não percebeu que ele foi o primeiro a ressuscitar de entre mortos por já ter feito a paz por seu sangue derramado na cruz, então você ainda não conhece Jesus.
Antes que venham os próximos 3 minutos ou as próximas três batidas de seu coração, certifique-se de pedir a Deus o perdão e a salvação por intermédio de Jesus. É de graça, pois o preço seria alto demais para você. Por isso Jesus pagou.
Ao se colocar no meio de seus discípulos reunidos, Jesus lhes ensina uma lição. Em breve ele subiria ao céu e eles não poderiam mais contar com sua presença física e palpável como nesta reunião. Mas mesmo assim eles não deixariam de contar com sua presença em seu meio. Afinal, ele prometeu: "Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18:20).
Embora algumas versões modernas tragam "onde dois ou três se reunirem em meu nome", esta não é a forma correta. Dizer que "as laranjas se reuniram sobre a mesa" não é o mesmo que dizer que "as laranjas estão reunidas sobre a mesa". No primeiro caso, as laranjas têm em si algum poder ou iniciativa. No segundo, algo ou alguém reuniu as laranjas, seja a cesta ou o dono da casa.
As pessoas na grande maioria dos agrupamentos cristãos de hoje "se reúnem", isto é, se organizam em torno de uma ideia, doutrina, denominação ou líder. Será que isso é o mesmo que ser reunido ou congregado ao nome de Jesus. Será que é a pessoa de Cristo o imã que as atrai? Será ele a razão, o meio e o fim de estarem reunidas? A resposta a estas perguntas depende de outros questionamentos.
Se no meio não estiver Jesus -- e quero dizer "no meio" como aquilo que realmente leva as pessoas a estarem ali -- então não é uma reunião ao nome dele ou para ele. Mas o que poderia substituir Jesus como aquilo que atrai as pessoas para estarem ali? Outras atrações.
Você já reparou o quanto de entretenimento foi acrescentado às reuniões cristãs? Shows de bandas, cantores e dançarinos. Pregadores contratados com cachês milionários para "reavivar" as pessoas. Megaespectáculos com promessas de curas e milagres com hora marcada, como se a agenda de Deus estivesse ao dispor de seus organizadores. Será isso o que encontramos na Palavra de Deus? Julgue você.
Aqui os discípulos estão isolados do mundo exterior, as portas e janelas trancadas, e Jesus no meio. "Paz seja com vocês!" diz ele. "Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se quando viram o Senhor" (Jo 20:20). E você, de que mais precisa para se alegrar? Será que as evidências da morte de Jesus por você -- suas marcas nas mãos e no lado -- já não são suficientes para despertar seu interesse nele? Será que é ele quem está no meio do lugar que você frequenta, ou é um pregador, uma banda ou um ritual?
Maria, irmã de Marta e Lázaro, escolheu a melhor parte: Jesus e sua palavra, nada mais. Toda a atividade de Marta, supostamente para servir a Jesus, só lhe valeram uma repreensão do Senhor. Ela estava perdendo a melhor parte. E você, tem se ocupado com pessoa de Jesus ou com as coisas de Jesus. Talvez você precise ver algo, como eloquência, luzes e sons. Se for este o seu caso, você não está sozinho: Tomé também era assim. Mas não é de Tomé que vamos falar nos próximos 3 minutos, e sim do protótipo da igreja que este capítulo representa.
"Assim como o Pai me enviou, eu vos envio", diz Jesus aos discípulos. "E com isso, soprou sobre eles e disse: 'Recebam os Espírito Santo'. Se perdoarem os pecados de alguém, estarão perdoados; se não os perdoarem, não estarão perdoados" (Jo 20:21-24).
Três coisas ocorrem nesta cena. Primeiro, os discípulos são comissionados a ocuparem o lugar de um testemunho de Deus no mundo. Segundo, o Senhor sopra sobre eles e diz: "Recebam o Espírito Santo'", capacitando-os para essa comissão. Aqui não tem o mesmo caráter de Atos 2, quando o Espírito Santo viria habitar na igreja coletivamente e em cada crente individualmente.
Em terceiro lugar, ele diz: "Se perdoarem os pecados de alguém, estarão perdoados; se não os perdoarem, não estarão perdoados". Judicialmente falando, só Deus pode perdoar pecados, porém administrativamente ele autoriza os discípulos a fazê-lo. Não entendeu? Digamos que alguém ofenda você e confesse a Deus, que garante a ele o perdão, pois "se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 Jo 1:9). Porém falta restaurar a comunhão entre vocês, e é aí que entra o seu poder de perdoá-lo, não judicialmente, mas na esfera das relações humanas.
Esta reunião dos discípulos com as portas fechadas é um protótipo do que viria a existir alguns dias depois: a igreja de Deus na terra. Primeiro Israel deixaria de representar Deus neste mundo. A igreja tomaria esse encargo, não como o povo terreno com promessas terrenas e bênçãos materiais que Israel tinha sido, mas como um povo celestial com esperanças celestiais e bênçãos espirituais.
Segundo, Deus enviaria o Espírito Santo para habitar na igreja, coletivamente, e nos crentes, individualmente. Isto seria algo inédito, pois até então o Espírito estava com os santos, mas no período da igreja ele habitaria nos santos. Terceiro, seria delegado à igreja o poder de perdoar pecados administrativamente, ou seja, "ligar" e "desligar", como em Mateus 18:18; introduzir na comunhão alguém considerado puro, ou excluir dela o impuro. Um exemplo? 1 Coríntios capítulo 5.
Jesus tinha celebrado a ceia com os discípulos em um cenáculo ou pavimento elevado, acima do nível do mundo. A reunião aqui é a portas fechadas. A igreja seria separada, nada teria a ver com a política, as organizações e os negócios do mundo. Estaria no mundo, sem ser do mundo. Finalmente, o mais importante: Jesus estaria no meio; seria ele o único e suficiente foco de atenção, e dele emanaria toda a autoridade na igreja. Ele seria o Senhor de fato. Será que é assim onde você congrega?
Nos próximos 3 minutos Jesus repreende a incredulidade dos que querem ver para crer.
Tomé não estava na primeira reunião com os discípulos. Por onde andaria Tomé? Será que a notícia das mulheres que tinham visto Jesus não chegou até ele? No capítulo 24 do evangelho de Lucas, os discípulos que Jesus encontra no caminho de Emaús já sabiam das mulheres que afirmavam terem visto Jesus ressuscitado. Então o que iam fazer em Emaús? A resposta em ambos os casos é: incredulidade.
Jesus repreende aqueles dois, dizendo: "Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?" (Lc 24:25-26). Não era nem uma questão de acreditar ou não nas mulheres, mas de crer em tudo o que os profetas tinham dito sobre a morte e ressurreição de Cristo; de crer na Palavra de Deus.
Agora é a vez de Tomé, nome que é sinônimo de desconfiança e incredulidade. Ele diz aos outros: "Se eu não vir as marcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pregos e não puser a minha mão no seu lado, não crerei" (Jo 20:25). Uma semana mais tarde, outra vez no primeiro dia da semana, os discípulos estão reunidos no mesmo lugar, e Tomé com eles.
Jesus aparece no meio deles, e fala a Tomé: "Coloque o seu dedo aqui; veja as minhas mãos. Estenda a mão e coloque-a no meu lado. Pare de duvidar e creia". Tomé se derrete todo: "Senhor meu e Deus meu!". Se na primeira reunião dos discípulos nós vimos uma figura da igreja, aqui, nesta segunda reunião, Tomé representa o remanescente judeu que irá crer no Messias após o arrebatamento da igreja, pois o judeu busca sinais, precisa ver parar crer.
O profeta Zacarias previu aquele momento: "Naquele dia procurarei destruir todas as nações que atacarem Jerusalém. E derramarei sobre a família de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de ação de graças e de súplicas. Olharão para mim, aquele a quem traspassaram" (Zc 12:9-10).
A repreensão a Tomé não terminou: "Porque me viu, você creu? Felizes os que não viram e creram". É significativo que o texto continue dizendo que "Jesus realizou na presença dos seus discípulos muitos outros sinais miraculosos, que não estão registrados neste livro. Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e, crendo, tenham vida em seu nome" (Jo 20:30-31).
Em que categoria você se encontra? Na dos que creem ser ver, ou na de Tomé que precisa ver para crer? Você se dá por satisfeito só de ler o registro dos milagres, que foram escritos para nós crermos, ou será que anda por aí em busca de milagres inéditos? Não seja Tomé; "pare de duvidar e creia" na Palavra de Deus.
Mas depois de crer, cuidado para não voltar a fazer as mesmas coisas que fazia. É o que acontece com os discípulos nos próximos 3 minutos.
Ao crer em Jesus como seu Senhor e Salvador, uma nova vida começa em você. Ao contrário da religião, que espera que você se transforme numa pessoa melhor para ser aceito por Deus, o evangelho ensina que Jesus veio salvar pecadores, não pessoas boas. A única coisa que você pode apresentar a Deus para provar que é um candidato à salvação são os seus pecados. Basta crer nele para ser perdoado.
Mas depois de salvo pela fé em Cristo, o que acontece? Uma mudança de atitude. Você passa a gostar de coisas que não gostava, e a sentir aversão por coisas que antes apreciava. Novas crenças e valores passam a pautar sua vida como filho de Deus, reconhecendo Jesus como Senhor e dono de seu ser. Como diz na carta aos hebreus, você começa a se ocupar com as "coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação" (Hb 6:9).
Mas e se você voltar a viver exatamente como vivia antes? Bem, parece ser o que encontramos os discípulos fazendo neste capítulo 21 do evangelho de João. Aqueles ex-pescadores tinham sido transformados, por Jesus, em pescadores de homens. Eles ganharam novas prioridades e uma nova perspectiva, porém neste capítulo não vemos mudança alguma. Eles voltam a fazer o que faziam.
Sem perceber o quanto de influência pode exercer nos outros, Simão Pedro diz: "Vou pescar". Os outros decidem fazer o mesmo: sobem no barco e voltam ao modo de vida que tinham antes de conhecerem a salvação. O resultado foi uma pescaria de uma noite inteira sem um peixe sequer. Assim somos nós, quando nos esquecemos de que, após crermos em Jesus, estamos sob nova direção. "Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas" (2 Co 5:17).
Já amanhecia quando voltavam e viram alguém na praia, mas não reconheceram que era Jesus. Quanto mais nos afastamos dele e da comunhão com as coisas de Deus, mais difícil fica reconhecermos que ele tem algo para nos dizer. E o Senhor tem uma pergunta para eles: "Filhos, vocês têm algo para comer". A resposta óbvia é "Não". Qualquer verdadeiro discípulo de Cristo passará fome se tentar viver longe dele e buscar satisfação nas coisas de sua velha vida.
Eles estavam a menos de cem metros da praia e podiam ouvir Jesus lhes dizer: "'Lancem a rede do lado direito do barco e vocês encontrarão'. Eles a lançaram, e não conseguiam recolher a rede, tal era a quantidade de peixes" (Jo 21:6). E você, de que lado tem lançado sua rede? Qualquer lado será o lado errado se não for o lado da vontade de Deus. João identifica que é o Senhor na praia, e Pedro, bem ao seu estilo, pula na água e vai ao encontro de Jesus, enquanto os outros chegam no barco.
Nos próximos 3 minutos os discípulos encontram companhia, conforto e alimento na presença de Jesus.
Os discípulos chegam à praia, ainda surpresos com resultado de terem jogado a rede seguindo as instruções de Jesus. Ali encontram Jesus, uma fogueira, peixes sobre as brasas e pão. Será que você é daqueles que acreditam que seu sustento é fruto do seu trabalho e não da providência divina? Se você tivesse nascido na Somália, quais teriam sido as chances de ter o emprego que tem?
Deus "faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos" (Mt 5:45), mesmo que eles não saibam disso. Porém, aquele que creu em Jesus como seu Salvador, que teve todos os seus pecados perdoados e foi recebido na família de Deus pela fé, deveria ao menos reconhecer quem o sustenta e quer dirigir sua vida. Alguns dias antes Jesus tinha ensinado os discípulos: "Sem mim vocês não podem fazer coisa alguma" (Jo 15:5).
Você reparou que neste encontro na praia é Jesus quem providencia tudo? As brasas, o peixe, o pão e até a rede cheia que irá sustentá-los por alguns dias. Não espere ir a Jesus pensando que é por seus esforços e ofertas que ele lhe dará em troca descanso e sustento. No Salmo 50 Deus deixa claro o que pensa de pessoas que tentam se aproximar de Deus na base da barganha:
"Não tenho necessidade de nenhum novilho dos seus estábulos, nem dos bodes dos seus currais, pois todos os animais da floresta são meus, como são as cabeças de gado aos milhares nas colinas. Conheço todas as aves dos montes, e cuido das criaturas do campo. Se eu tivesse fome, precisaria dizer a você? Pois o mundo é meu, e tudo o que nele existe. Acaso como carne de touros ou bebo sangue de bodes? Ofereça a Deus em sacrifício a sua gratidão" (Sl 50:9-14).
Tudo o que Deus espera de você é sua gratidão, mas antes é preciso que você tenha de que agradecer. Jesus convida: "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso" (Mt 11:28). E em Atos Pedro deixa claro que "não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos" (At 4:12).
"Venham comer", convida Jesus. Ele tinha tudo preparado: companhia, conforto e alimento. Pedro talvez se lembre de outra fogueira recente no pátio da casa do sumo sacerdote, quando quis se aquecer na companhia dos inimigos de Jesus. Tudo dá errado na companhia das pessoas erradas. Você ainda se ilude pensando encontrar companhia, conforto e alimento em seus amigos incrédulos? Cuidado com o ilusório conforto das fogueiras dos homens. Pedro precisou até negar que conhecia o Senhor para não sofrer o repúdio dos inimigos de Jesus.
O desejo de Pedro voltar à velha vida, e arrastar os outros consigo pode ser o resultado de uma pendência em seu coração: ele ainda não se recuperou de ter falhado e negado que conhecia Jesus. O que acontece quando falhamos? Veja a resposta nos próximos 3 minutos.
Como você se sentiria se tivesse traído a confiança de seu melhor amigo e, em troca, recebesse dele só amor e consideração? Depois de Pedro estar alimentado e aquecido, Jesus decide aquecer também seu coração. O arrependimento de Pedro havia sido sincero, porém reservado. Jesus quer agora restaurá-lo publicamente.
No original grego são utilizadas duas palavras diferentes aqui -- ágape e filéo -- traduzidas em nossas Bíblias pelo genérico verbo "amar". Mas a diferença é significativa, por isso vou transcrever a passagem com o sentido original:
"Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: 'Simão, filho de Jonas, você me ama mais do que estes?' Disse ele: 'Sim, Senhor, tu sabes que tenho afeição por ti'. Disse Jesus: 'Alimente meus cordeiros'. Pela segunda vez Jesus disse: 'Simão, filho de Jonas, você me ama?' Ele respondeu: 'Sim, Senhor tu sabes que tenho afeição por ti'. Disse Jesus: 'Pastoreie as minhas ovelhas'. Pela terceira vez, ele lhe disse: 'Simão, filho de Jonas, você tem afeição por mim?' Pedro ficou magoado por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez 'Você tem afeição por mim?' e lhe disse: 'Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que tenho afeição por ti'. Disse-lhe Jesus: 'Alimente minhas ovelhas'" (Jo 21:15-17).
Antes de negar Jesus por três vezes, Pedro quis parecer mais fiel que os outros discípulos ao afirmar que estava pronto a morrer por ele. Confiança própria é fruto da carne, portanto veja se você não é desses que gostam de se gabar, fazendo alarde de sua fé e perseverança. A autoconfiança nas coisas de Deus costuma esconder o sepulcro caiado da hipocrisia dos fariseus.
Para tratar dessa autoconfiança de Pedro Jesus pergunta se ele o ama mais que os outros discípulos. Jesus sabe que era isso que havia no coração de Pedro, ao afirmar que estava disposto a morrer por Jesus, antes de negá-lo três vezes. Pedro se achava "O Cara". Mas aqui Pedro não responde usando o amor "ágape", o amor puro e desinteressado, mas o amor "filéo" da afeição fraternal. Agora ele aprendeu a não confiar em si mesmo. Na terceira vez é Jesus quem pergunta usando "filéo", e não "ágape": "Simão... você tem afeição por mim?". Então Pedro reconhece a divindade e onisciência de Jesus: "Senhor, tu sabes todas as coisas".
Pedro passa no teste e Jesus o trata com graça. Na restauração de Pedro é usada a mesma graça que cancela a pena no lago de fogo que o pecador merece, para lhe dar um lugar na glória que ele não merece. O Deus da Bíblia é um Deus de perdão e restauração para quem crê em Jesus. Pedro, que três vezes negou conhecer Jesus, deixa de receber o que merece -- uma tripla reprovação -- para receber o que não merece -- uma tripla incumbência de cuidar dos cordeiros e ovelhas do rebanho.
Você sabe a diferença entre um cordeiro e uma ovelha? Não? Então veja nos próximos 3 minutos.
Cada vez que Jesus pergunta a Pedro se este o ama, ele também faz um pedido. O primeiro é para que Pedro alimente os seus cordeiros. Os outros são para que ele pastoreie e alimente as ovelhas. Estas são também as incumbências dos que recebem do Senhor a responsabilidade de cuidar do rebanho. Cordeiros são os mais novos, frágeis e tenros, que precisam de leite. Ovelhas são mais crescidas. Um pastor ou ministro deve saber diferenciar umas das outras.
O significado destes dois termos -- "pastor" e "ministro" -- foi totalmente corrompido pelas religiões. O mesmo aconteceu com o termo "igreja", que hoje é mais aplicado a uma denominação ou templo de tijolos do que a uma reunião de pessoas, em sua forma local, ou o corpo de Cristo, no seu aspecto universal.
Na Palavra de Deus você encontra três tipos de pastores. O primeiro é um dom, dado pelo Senhor. Na carta aos Efésios Paulo diz que Jesus, após subir aos céus, "deu uns para... pastores... querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo" (Ef 4:11-12). A atuação deste pastor é universal, para todo o corpo de Cristo, não fica restrita à uma assembleia local. O pastor não é necessariamente um pregador, já que sua função é cuidar.
Outro "pastor" na Bíblia é o que tem a responsabilidade administrativa de uma assembleia local, mas ele nunca aparece no singular, sempre no plural -- "pastores". São chamados também de "bispos", "presbíteros" ou "anciãos". Eles podem ou não ter o dom de pastor citado em Efésios 4. Tanto o "pastor", o dom universal, como os "pastores", na função local de supervisores, jamais são vistos na Bíblia dirigindo uma reunião de cristãos. É o Espírito quem usa os diferentes dons. Você também não encontra na Bíblia a formação, eleição ou ordenação de pastores, seja por cursos de teologia, congregações locais ou denominações.
Tanto o dom de "pastor" de Efésios 4, como o ofício de "pastores", "bispos", "presbíteros" ou "anciãos", são exercidos por meio do ministério de cada um, ou seja, eles são ministros de Deus, não de uma denominação. A palavra "ministro" também foi corrompida e transformada em sinônimo de cargo de liderança eclesiástica. Mas o seu significado é o de um servo ou escravo, cuja tarefa é servir. Pense no Senhor Jesus e você terá ideia de um perfeito Ministro. Ele ensinou: "Se alguém quiser ser o primeiro, será o último, e servo de todos" (Mc 9:35).
Finalmente, o terceiro tipo de pastor na Bíblia é aquele que o profeta Ezequiel chama de "pastores... que só cuidam de si mesmos" (Ez 34:2). São como os filhos de Eli, que roubavam as ofertas ao Senhor, ou como Diótrefes, que queria ser o mais importante em sua congregação. São descritos por Paulo como "egoístas, avarentos [ou ávidos por dinheiro], presunçosos, arrogantes... tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder" (2 Tm 3:1-5). Destes devemos nos afastar.
Nos próximos 3 minutos o Senhor atende o desejo de Pedro.
Depois de passar por uma sabatina, quando Jesus lhe perguntou três vezes se o amava, e lhe deu também uma tripla responsabilidade, Pedro fica sabendo que seu desejo será realizado. Que desejo? O de morrer pelo Senhor. Antes da crucificação, e antes de sua tripla negação, Pedro dissera estar pronto a morrer. Jesus lhe garante que será assim, com estas palavras:
"Quando você era mais jovem, vestia-se e ia para onde queria; mas quando for velho, estenderá as mãos e outra pessoa o vestirá e o levará para onde você não deseja ir". O texto continua explicando que "Jesus disse isso para indicar o tipo de morte com a qual Pedro iria glorificar a Deus" (Jo 21:18-19).
A intenção de Pedro era boa, mas colocá-la em prática estava fora de seu alcance. O mesmo aconteceu com Moisés. Ele quis libertar o povo de Israel da escravidão, porém começou assassinando um egípcio. A intenção era boa, porém jamais poderia ser executada por seus esforços guiados pela vontade própria.
Depois de viver 40 anos na corte de Faraó, aprendendo toda a ciência do Egito, Moisés foi obrigado a viver 40 anos escondido para aprender a não confiar em si mesmo. Só então ele estava pronto para guiar o povo numa peregrinação de 40 anos pelo deserto rumo à terra de Canaã.
Se Pedro tivesse morrido antes, teria sido para sua própria glória. Porém agora ele morreria para a glória de Deus. Paulo expressou bem qual deve ser o sentimento docristão de glorificar a Deus na vida ou na morte: "Cristo será engrandecido em meu corpo, quer pela vida quer pela morte; porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro" (Fp 1:20-21).
Quando Pedro pergunta o que seria de João, Jesus responde: "Se eu quiser que ele permaneça vivo até que eu volte, o que lhe importa?" (Jo 21:22). Isto fez os discípulos pensarem que João não morreria, mas o texto esclarece que não foi o que Jesus quis dizer. João permaneceria vivo até a volta de Cristo porque a ele seria mostrada essa volta na revelação do Apocalipse. Antes de morrer em idade avançada, João teve o privilégio de ver Cristo voltar na visão que recebeu.
Este evangelho não tem começo nem fim, porque assim é Jesus: Deus eterno. Ele começou falando que "Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez". Agora diz que "Jesus fez também muitas outras coisas. Se cada uma delas fosse escrita, penso que nem mesmo no mundo inteiro haveria espaço suficiente para os livros que seriam escritos".
Seria possível descrever tudo o que Jesus fez? Jamais. O profeta Isaías o chamou de "Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz". O evangelho de João nos mostrou Jesus, Deus infinito e Homem acessível. O que você está esperando para crer nele? O que está esperando para dedicar sua vida a ele?
Cada evangelho apresenta Jesus em um diferente caráter. Mateus mostra o Rei prometido a Israel e seu texto é repleto de expressões do tipo "cumpriu-se o que fora dito pelo profeta". Ali a genealogia de Jesus é desde o Rei Davi. Mateus, um coletor de impostos, conhecia os assuntos do governo real, enquanto Marcos é visto em Atos atuando como servo dos apóstolos. Seu evangelho revela o Servo Jesus, portanto não espere encontrar uma genealogia no currículo de um servo.
No evangelho de João Jesus é o Deus eterno, sem começo nem fim, e mesmo assim acessível ao homem. João é o "discípulo amado", aquele que se reclinava sobre o peito de Jesus. Agora temos Lucas, um médico, descrevendo Jesus do modo como só um médico poderia fazê-lo: como um ser humano. Neste evangelho a genealogia começa em Adão, o primeiro exemplar de humanidade.
Rei, Servo, Homem e Deus. É assim que Jesus é apresentado nos evangelhos. Qualquer coisa menos que isso não vem de Deus. E por falar em Escrituras, Lucas nos dá uma boa pista de como elas foram inspiradas. Lucas, ao contrário dos outros três evangelistas, aparentemente não teve contato direto com Jesus. Ele não foi um apóstolo, como foram Mateus e João, e mesmo assim Deus quis usá-lo para apresentar o Filho eterno de Deus.
Os primeiros quatro versículos nos ajudam a entender que os textos inspirados não foram psicografados ou escritos sob algum tipo de transe mediúnico. Os escritores não foram usados como meras carcaças possuídas, mas estavam no total controle de suas faculdades mentais. Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, deixa claro que "os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Pois Deus não é Deus de desordem, mas de paz" (1 Co 14:32-33).
Aquele que profere algo da parte de Deus -- e este é o sentido de profetizar -- não perde o controle de si, não muda o tom da voz e nem se debate como se fosse um fantoche de alguma entidade espiritual. Isso você encontra nos rituais pagãos e demoníacos, não nas coisas de Deus. Portanto esteja ciente de que nem tudo o que é apresentado hoje como vindo de Deus vem realmente vem de Deus. Histeria, fingimento e possessão demoníaca estão entre as coisas que fazem alguém perder o controle de si querendo se passar por profeta de Deus.
Devemos ser sábios, prudentes e diligentes para discernir o que é de Deus e o que não é, e nos próximos 3 minutos veremos Lucas fazendo assim, enquanto relata a Teófilo este interessantíssimo relato da vida de Jesus. Mas quem é Teófilo? Saiba nos próximos 3 minutos.
A Bíblia não diz quem era Teófilo, mas é fácil imaginar que pode ser qualquer um, inclusive eu e você. O nome grego é composto por duas palavras, "Teo", que significa "Deus", e "filo", que é "amigo". Se você é amigo de Deus, então Teófilo é você. No livro de Atos Lucas continua escrevendo a Teófilo, portanto aquele livro é a continuação deste evangelho.
A Bíblia é um conjunto de livros, cada um trazendo o estilo característico de seu autor humano e da inspiração divina. Deus não suprimiu as características individuais dos instrumentos que inspirou, assim como o músico não suprime as características do instrumento que toca -- e todo músico sabe que mesmo dois instrumentos idênticos emitem cada um o seu som característico.
Como um jornalista em um trabalho investigativo, Lucas fez uma pesquisa minuciosa, entrevistando pessoas que conviveram com Jesus. Seu evangelho, o mais detalhado dos quatro, foi escrito uns 30 anos após a morte e ressurreição de Jesus, quando muitas testemunhas dos fatos ainda viviam. A hora era perfeita para evitar a distorção causada pela tradição oral. Mas será que isto quer dizer que o texto não é inspirado? Ao contrário, isto mostra que Lucas não escreveu uma lenda, mas baseou-se em fatos.
A prova da inspiração você descobre nos detalhes impossíveis de serem conhecidos por Lucas ou seus entrevistados. É o caso das impressões, sentimentos e eventos reservados. Por exemplo, como Lucas iria saber que Zacarias e Isabel "eram justos aos olhos de Deus", se o próprio Deus não tivesse lhe revelado esta impressão? Ou como poderia escrever da angústia de Jesus em sua oração no Monte das Oliveiras? Ou de seu suor, como gotas de sangue e do anjo que o confortava, se os discípulos estavam dormindo e ninguém mais viu aquilo?
Veja que interessante estas duas citações de 1 Timóteo 5:18: "A Escritura diz: 'Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal', e 'o trabalhador merece o seu salário'". Paulo cita uma passagem do Antigo Testamento e outra de Lucas 10, chamando ambas de "A Escritura", termo sempre usado para a Palavra de Deus. Paulo, que escreveu pouco depois de Lucas, já atribuía ao seu texto o status de Sagradas Escrituras. E Pedro, no capítulo 3 de sua segunda carta, chama de "escrituras" também as cartas de Paulo.
Crer em Jesus implica crer também na Bíblia como a Palavra de Deus. Afinal, como você teria conhecido Jesus se não fosse pela revelação feita aos quatro evangelistas e confirmada pelas epístolas dos apóstolos? Nos próximos 3 minutos vamos conhecer Zacarias.
Zacarias é um dos sacerdotes que se revezam no serviço do templo de Jerusalém. Sua posição é privilegiada, porém, apesar de sempre ter orado por um filho, sua esposa Isabel é estéril e eles já são velhos. Para um judeu, cujas bênçãos incluíam saúde, filhos e prosperidade, a esterilidade era motivo de tristeza e desonra.
Ao entrar no templo para oferecer incenso, Zacarias não imagina a surpresa que o espera: um anjo em pé à direita do altar de incenso. Zacarias leva o maior susto, mas o anjo o tranquiliza. Apresenta-se como Gabriel e avisa que sua oração foi ouvida: sua esposa dará à luz um filho que será chamado João. Ele será grande diante do Senhor e converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus.
Se você entrasse em um lugar que era para estar vazio, e encontrasse alguém dizendo ser um anjo e anunciando que sua mulher idosa e estéril ficaria grávida de uma celebridade, você acreditaria? Nem Zacarias acreditou, e por causa de sua incredulidade ele ficará mudo até o nascimento da criança. Ao sair do templo ele só consegue se comunicar por sinais ou escrevendo. Mas sua incredulidade o impede de falar das grandes coisas que Deus preparou para ele.
A incredulidade nos priva de muitos privilégios. Durante anos Zacarias orou por aquela criança, e agora que Deus avisa que a encomenda está a caminho, ele duvida! Faz lembrar o caso de um grupo de lavradores que decidiram orar pedindo chuva. Enquanto caminhavam sob um céu sem nuvens até o lugar combinado, achavam graça da filhinha de um deles que levava um guarda-chuva debaixo do braço. Foi a única que voltou para casa de roupa seca.
A carta de Tiago, capítulo 5, diz: "A oração de um justo é poderosa e eficaz. Elias era humano como nós. Ele orou fervorosamente para que não chovesse, e não choveu sobre a terra durante três anos e meio. Orou outra vez, e o céu enviou chuva" (Tg 5:16-18). Elias era alguém igualzinho a você, com defeitos, temores e inquietações. Mesmo assim ele orou e Deus atendeu.
Sabia que você pode contar com Deus em oração? Mas espere! Deus não é um mordomo ao seu comando. Ele sempre responde às nossas orações, mas às vezes a resposta é "Não!". Outras vezes nós nem oramos e ele segue adiante com seus planos, porque é Deus. E é isso que irá fazer nos próximos 3 minutos, enviando o mesmo anjo Gabriel a uma jovem recém-saída da adolescência, para avisá-la de que ela ganhará um bebê. Porém a jovem Maria é solteira e virgem.
Zacarias e Isabel oravam por um filho e Deus atendeu suas orações, apesar de serem velhos e terem dúvidas se Deus responderia. Agora a visita do anjo não é a um velho sacerdote no templo de Jerusalém, mas a uma jovem chamada Maria.
Lucas não revela sua idade, mas naquela época e lugar as meninas deviam ter no mínimo 12 anos para se casarem, e os meninos 13. Maria deve ter entre 12 e 14 anos. Ela ainda não é casada com José, apenas desposada, uma espécie de noivado com status de casamento, porém sem relações sexuais. Maria é a virgem.
Mas por que dizer que ela é a virgem e não uma virgem? Porque é assim que Deus a chama na profecia de Isaías: "Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel" (Is 7:14). Setecentos anos antes Deus já tinha escolhido o ventre no qual seu Filho assumiria a forma humana.
Ela já tinha sido mencionada na primeira vez em que o evangelho foi proclamado no jardim do Éden. Em Gênesis lemos que Deus avisou Satanás: "Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar" (Gn 3:15). A mulher seria Maria, e seu descendente, Jesus.
Por isso o anjo a chama de agraciada, isto é, beneficiada com graça. Ele não a chama de "cheia de graça", como alguns costumam dizer, pois isto faria dela a fonte de graça, o que obviamente ela não é.
Imagine se você fosse uma jovem de treze anos e um homem aparecesse dentro de sua casa dizendo ser um anjo. Como você reagiria? Ficaria perturbada, como Maria fica aqui. Gabriel a tranquiliza explicando que ela tinha sido agraciada por Deus. Talvez ela ficasse mais tranquila se ele não continuasse a mensagem:
"Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó; seu Reino jamais terá fim" (Lc 1:31-33).
Como se a presença de um anjo já não fosse demais para ela, o que ele diz é de tirar o fôlego: Ela irá engravidar, o filho terá um nome que significa "Jeová é o Salvador", será um grande homem e ao mesmo tempo divino, o Filho do Altíssimo. Ele assumirá o trono de Davi e seu reino não terá fim.
Que Deus preparou Maria para isso não há dúvida. Que garota teria recebido tal informação sem desmaiar ou se desesperar? Maria não duvida do anjo, mas ela tem apenas uma pergunta, que faz nos próximos 3 minutos.
Maria não se desespera e nem duvida, ao ouvir da boca do anjo a notícia de que ela será mãe do Filho de Deus e futuro Rei de um reino sem fim. Deus a escolheu e a preparou para este momento. Ela teria o privilégio de ser a mãe de Jesus, mas antes Deus achou por bem avisá-la de seus planos. Este é o modo de Deus.
Embora nem sempre possamos conhecer todos os seus desígnios, ou compreender os que conhecemos, Deus gosta de se comunicar conosco e contar aquilo que acha importante sabermos. Ele fez assim quando o próprio Jesus, muito tempo antes de nascer aqui em um corpo de carne, apareceu em forma humana a Abraão acompanhado de dois anjos.
O objetivo da visita era avisar Abraão e Sara, já nos seus cem e noventa anos de idade respectivamente, que eles teriam um filho, apesar de Sara ter sido estéril até ali. Ela não pôde deixar de rir da notícia, sendo repreendida pelo Senhor: "Existe alguma coisa impossível para o Senhor?" (Gn 18:14). Mas a visita ainda não tinha terminado. Abraão teria uma prova de quão perto e acessível é o Senhor daqueles que são seus e têm comunhão com ele.
"Então o Senhor disse: 'Esconderei de Abraão o que estou para fazer?'". O que ele estava para fazer era destruir Sodoma e Gomorra por causa do nível de iniquidade que seus habitantes tinham atingido. O Senhor não só dá a Abraão uma informação privilegiada, como permite que ele interceda pela população.
"Abraão aproximou-se dele e disse: 'Exterminarás o justo com o ímpio? E se houver cinquenta justos na cidade? Ainda a destruirás e não pouparás o lugar por amor aos cinquenta justos que nele estão? Longe de ti fazer tal coisa: matar o justo com o ímpio, tratando o justo e o ímpio da mesma maneira. Longe de ti! Não agirá com justiça o Juiz de toda a terra?' Respondeu o Senhor: 'Se eu encontrar cinquenta justos em Sodoma, pouparei a cidade toda por amor a eles'" (Gn 18:22-33).
Abraão foi reduzindo o número de beneficiados por sua intercessão -- 45, 40, 30, 20 e 10 --, sempre recebendo do Senhor a garantia de que não destruiria a cidade se encontrasse aquele número de justos. Infelizmente para os habitantes de Sodoma a intercessão de Abraão parou nos dez e Deus encontrou apenas quatro pessoas em condições de serem salvas da destruição: Ló, sobrinho de Abraão, sua esposa e duas filhas.
Por confiar no anjo Gabriel e no Deus acessível que o enviara para avisá-la que ela será a mãe do Filho de Deus, Maria sente-se à vontade para fazer a pergunta que não quer calar: "Como acontecerá isso, se sou virgem?" (Lc 1:34). Nos próximos 3 minutos o anjo responde.